Ao reduzirmos o excesso de gordura corporal diminuiremos o volume de gordura visceral, fonte de substâncias capazes de promover inúmeras alterações orgânicas, tais como dificultar a ação da insulina e estabelecer danos vasculares, prefácios do diabetes tipo 2 e do acúmulo de placas de gordura nas artérias. 

Uma vez estabelecida a obesidade, o emagrecimento sustentado é tarefa de realização improvável, pois, ainda que a correção da dieta e a prática de exercícios físicos desmonte dois dos pilares básicos do ganho ponderal, não reverterão substancialmente o processo engordativo, muito embora possam conter seu avanço.

Com irresponsável atraso, a necessidade de recurso medicamentoso resolutivo para esta doença foi finalmente compreendida e há duas décadas a indústria farmacêutica está debruçada implacavelmente nessa busca.

Mesmo que aparentemente muito esteja por vir, o auge desta procura está representado neste momento pela tirzepatida, injetável produzido pela farmacêutica Eli Lilly, que recebe o nome de Mounjaro quando a indicação for o tratamento do diabetes tipo 2, e Zepbound, quando prescrito para a obesidade.

Com incrível média de 22,9% de perda ponderal e superlativa competência para o controle do diabetes tipo 2, a tirzepatida já está aprovada pela Anvisa para a comercialização no Brasil desde setembro de 2023, porém, só agora a Eli Lilly confirma o abastecimento em nosso País, inicialmente prometido para junho, mas antecipada para esta primeira quinzena de maio.

Há tempos não se via tamanho alvoroço envolvendo um medicamento e muito desse frisson é arrefecido pelo que se espera dos preços que serão praticados.

Em caixas com 4 canetas (um mês de tratamento), inicialmente será comercializado com nome fantasia Mounjaro e somente nas doses de 2,5 mg e 5 mg, com preços de R$ 1.907,29 (2,5 mg) e R$ 2.384,84 (5 mg), entretanto, para pacientes cadastrados custará R$ 1.406,75 (2,5 mg) e R$ 1.759,64 (5 mg) no e-commerce, e R$ 1.506,76 (2,5 mg) e R$ 1.859,65 (5 mg) nas lojas físicas.

É dito extraoficialmente que na dose de 15 mg o custo será de aproximadamente R$ 3.600,00, podendo alcançar R$ 2.550,00 para os cadastrados, nada mal, quando comparamos com os 1,079.77 dólares (aproximadamente 6.200 reais) cobrados nas farmácias americanas pelo mesmo remédio, se não houver cobertura do seguro saúde.

Tais preocupações não ocuparão as mentes de noventa por cento dos brasileiros, para os quais, estes valores são sonhados para muitas outras demandas, mas faz bem imaginar que possa ser apenas uma questão de tempo até que estes fármacos sejam amplamente acessíveis!

Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.