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Chupeta digital? Por que as telas viraram o 'silenciador' oficial de crianças

Celulares e tablets estão assumindo o papel de acalmar bebês — mas a que custo? Especialistas alertam para riscos no desenvolvimento emocional e neurológico

Natasha Werneck
14/05/2025 | 11:31
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FOTO: Divulgação


É cada vez mais comum: um bebê que chora recebe o celular como distração. Uma criança entediada ganha um tablet para se acalmar. As telas, presentes em praticamente todos os ambientes, estão se tornando uma espécie de nova chupeta — um objeto para silenciar desconfortos, distrair e acalmar. Mas será que estamos mesmo criando uma geração de pequenos dependentes da chamada “chupeta digital”?

A comparação não é exagerada. Rogéria Sprone, especialista em educação e diretora pedagógica do Colégio Joseense, em São José dos Campos (SP), afirma que o uso indiscriminado de telas desde os primeiros anos de vida pode trazer impactos profundos. “A tela pode funcionar como calmante imediato, mas não ensina a criança a lidar com frustrações nem a desenvolver habilidades emocionais”, alerta. “Quando vira substituto de afeto ou da interação humana, compromete o desenvolvimento neurológico e emocional.”

Neurociência explica

O alerta é respaldado por pesquisas da neurociência: os primeiros anos de vida são um período crítico para o cérebro. Nessa fase, o que mais importa são experiências sensoriais reais — toque, fala, contato visual, brincadeiras. São essas interações que ajudam a moldar funções essenciais como memória, atenção, linguagem e autorregulação.

“A criança que passa horas com estímulos passivos na tela perde chances preciosas de desenvolver empatia, criatividade, pensamento crítico e até habilidades sociais básicas”, explica Rogéria, também especialista em psicopedagogia e neuroaprendizagem.

Recomendações oficiais, como as da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Academia Americana de Pediatria, indicam evitar telas totalmente até os 2 anos de idade, e limitar o uso depois disso — sempre com supervisão e propósito educativo. A realidade, porém, ainda é bem diferente. “Hoje, dar a tela virou uma solução automática para o choro, o tédio, a birra. Mas esses momentos deveriam ser oportunidades de conexão, não de distração”, defende a educadora.

Mais do que uma crítica, a reflexão aponta para um dilema moderno: estamos terceirizando a escuta, o colo e o vínculo afetivo para os dispositivos digitais? Se sim, o preço pode vir alto — e silenciosamente.

A pergunta, então, não é apenas se as telas viraram a nova chupeta é: o que estamos deixando de oferecer em troca?




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